sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

As Marias, Joanas e as Marias Joanas: Amsterdã

Querida Rosie,

                peço perdão pelo tardar da resposta. Estive experimentando algum intempérie sentimental, que resultou num bloqueio criativo. Sei que criatividade não deveria ser necessária para escrever uma carta, mas não me sentiria bem em enviar uma carta mal redigida a você.
                Não vi gordas, ou sombras. Mas talvez não tenha visto porque não tenho prestado atenção o suficiente. Tenho andado por muitos cantos, tentando ouvir mais vozes e achar o que vim procurar aqui.
                Chove muito e venta nesse Valentine's day; admito que parte do atraso final foi para deixar para escrever essa carta no dia de hoje (por qualquer romantismo que seja). Quem sabe uma coruja não lhe entrega uma flor por mim?
                Encontro-me em Amsterdã, no presente momento; a cidade dos diamantes. Embora não sejam eles que me interessem verdadeiramente, mas sim as mulheres e os homens que os vestem. Raros são as coisas materiais capazes de realmente manter minha atenção. Principalmente depois de algumas leituras recentes sobre antropologia.
                O museu de Van Gogh é magnífico, bem como a casa de Anne Frank. Embora o sentimento promovido por esta última não seja algo exatamente agradável, é sem dúvida intenso. O álcool é farto, os ônibus pontuais a erva, boa. Não posso me queixar de nada. No máximo, de alguns donos de bar sem senso de humor.
                Falando em estudo das sociedades, parte-me o coração não estar em nossas terras natais nesse momento. Os acontecimentos recentes me fazem temer pela segurança daqueles que se posicionarem a favor dos direitos humanos, ou até incautos que estiverem, no momento errado, no lugar errado. Tenho medo do ano que vem a seguir, e mais ainda por não estar onde eu deveria estar nesse momento.
                A nossa cruz vermelha deveria fazer algo para num momento de tanta tensão e fragilidade, os valores humanistas fossem promovidos . Gostaria de estar aí para promover essa ideia. Imagino que você não esteja tendo tempo para isso, visto que agora cursa duas faculdades.
                De qualquer forma, peço gentilmente que tome cuidado enquanto estou longe demais para cuidar de ti, pequenina. Cuidado com tempos revoltos; eles são especialistas por tirar algo de nós quando menos esperamos.

Com Amor,

A

sábado, 11 de janeiro de 2014

Primeira.

Londres, 08 de Janeiro de 2014.

Querida Rosie,

como não acredito em bruxas, mas elas existem, o scanner da biblioteca não está mais entre nós. Mas das coisas que mais me orgulho é ter uma palavra honrada. Algo que nada mais é que uma maneira de demonstrar gratidão a elas - as palavras - que comigo estiveram sempre; nos dias de Sol e nos dias de chuva.

Escrevo-lhe este pedaço de mim no papel (e agora, digitalizado) como uma forma de dizer várias coisas que não sou capaz de prosar sem caneta em mãos. Principalmente, para dizer que me importo. Que meu 2013, um ano que foi quase puro esquecimento de experiências amargas, teve no seu sorriso algum alívio. Sempre é bom encontrar alguém que te lembra das coisas importantes; e por isso lhe serei grato não por muito tempo. Afinal, só posso ser grato enquanto respiro.

Não tão importante, mas ainda sim digníssima de nota é a tal Londres. Cinza como só alguém lúdico pode perceber. Impessoal metrópole, concentra todas as culturas e povos. Sem julgar, sem se importar, entende-os. Permite que vivam entre suas malhas metódicas de linhas ferroviárias, rodoviárias, pessoais e sociais.

Faz, assim como uma mulher sedutora, questão de mostrar que nada a possui, embora todos desejem. Todos querem ser Londrinos, mas nenhum foi, é ou será, pois jamais alguém conheceu bem o suficiente suas curvas para lhe tomar posse.

Por hora é isso. O sono acumulado pelas (ir)responsabilidades acadêmicas agora pesa; assim como a saudade da besta que isto escreve. Fugirei do frio num sonho ensolarado. Até breve.

Com amor,

A.