O odor de papel envelhecido rapidamente o intoxicou ao abrir aquela pasta. Intoxicou-lhe com o passado, que como uma droga endovenosa tomou-lhe o corpo numa tempestade de sentimentos: saudade, raiva, desprezo, carinho. E talvez até amor, quem sabe. O trem agora não parecia mais se mover, bem como o tempo.
"Você chegou rápido demais. Só deu tempo de escrever que te amo - 26/fev/2012" - "Hmm. Ela sempre preenchia com a data" - pensou, com um sorriso tímido e com os braços invisíveis da ex-amante ao seu redor.
Talvez esse tenha sido o problema de Edward. Os eventos sempre lhe foram rápidos demais. Sempre ocorreram quando não estava preparado. Em seus pensamentos, gastou tempo demais divagando sobre a filosofia pós-moderna industrialmente desenhada para preencher o vazio da alma humana (quando o capital não era capaz de fazê-lo, naturalmente). Não cresceu para fora; apenas para si.
O grosso ar da Alemanha central agora ficara leve como as memórias. Memórias são como as águas da chuva. Vez ou outra, gostaríamos que ficassem. Mas, no fim do dia, todos nós precisamos secar nossas roupas, por nossos chapéus e voltar ao trabalho. E pra isso, elas tem que ir embora.
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