Oração ao vento para tempos difíceis
Minha amada,
pediste-me uma oração. Sabes pois que não é de meu feitio orar. Porém, como sou incapaz de lhe dizer um "não" - principalmente quando teus pedidos vem de dentro da alma - escrevi o que se segue:
Rezo eu, de todo o coração, para que as dificuldades permaneçam. Quem permaneçam conosco até que possamos superá-las, juntos.
Rezo eu, de todo o coração, pela distância. A distância, hoje tão larga, proporciona reencontros apaixonantes. Que nossos reencontros aconteçam todos os dias quando estivermos sob o mesmo teto.
Rezo eu, de todo o coração, pela morte. Andar ao lado dela faz com que eu me agarre completamente a vida. E queira cada vez mais dividir esta única que nós temos ao teu lado.
Rezo eu, de todo o coração, para que o que quer que seja que há (se houver), acredite em mim quando escrevo:
eu te amo,
sempre amarei,
e te desejo toda a força
para que com suas (belas) pernas
possa caminhar ao meu lado.
Agradeço aos ventos que te trouxeram.
A sorte que me é concedida.
E rezo, de todo o coração, para que soprem nosso amor à vela.
Nesse imenso mar que é a vida.
Nesse incerto mar que é o futuro.
Com amor,
A.
sexta-feira, 30 de outubro de 2015
Auto-Retrato
Auto-Retrato (v3.0)
Em páginas brancas,
nem sempre em branco;
pergunto: há fim ou começo?
Quem, onde, como?
Seria eu uma Panaceia?
Pajé para todos os males?
Trajando vestes brancas de algodão fino
espalhando saúde enlatada?
(com direito a devolução num prazo de 30 dias a partir da compra)
Ou seria eu o ceifador da pós-modernidade?
Petrificando com palavras a felicidade alheia?
Espalhando a inconveniente verdade: não há deus,
nem vida, nem morte.
Só há nós - na garganta, no peito, entre nós.
Há voltados, para nós, os olhos do abismo.
Profundos tão quanto o vazio da alma.
Assustadores como nós.
Eu, paro, olho.
Seria Hades ou Esculápio.
Nenhum.
Sou ambos os todos.
Sou as gotas de orvalho pela manhã.
O Sol que castiga a nuca ao meio-dia.
O sereno que encobre o pôr do sol.
O calar da noite.
Sou o café morno.
A moeda de um centavo.
A ponte interditada.
O homem que faz disto seu tesouro e casa.
Sou tudo que os olhos não tocam,
o nada que sempre está presente.
Onde todos estão,
mas ninguém é.
Neste mundo de plástico, à venda,
sou aquilo que não se pode comprar.
Aquilo que prateleira alguma contém,
Que infinitas parcelas não trariam.
Sou o pai que cuida.
O marido fiel.
A maré que carrega.
A brisa que leva o calor embora.
O que sou, afinal?
Nada. Tudo.
Não existo.
Existir, hoje, é uma mera formalidade contratual.
Em páginas brancas,
nem sempre em branco;
pergunto: há fim ou começo?
Quem, onde, como?
Seria eu uma Panaceia?
Pajé para todos os males?
Trajando vestes brancas de algodão fino
espalhando saúde enlatada?
(com direito a devolução num prazo de 30 dias a partir da compra)
Ou seria eu o ceifador da pós-modernidade?
Petrificando com palavras a felicidade alheia?
Espalhando a inconveniente verdade: não há deus,
nem vida, nem morte.
Só há nós - na garganta, no peito, entre nós.
Há voltados, para nós, os olhos do abismo.
Profundos tão quanto o vazio da alma.
Assustadores como nós.
Eu, paro, olho.
Seria Hades ou Esculápio.
Nenhum.
Sou ambos os todos.
Sou as gotas de orvalho pela manhã.
O Sol que castiga a nuca ao meio-dia.
O sereno que encobre o pôr do sol.
O calar da noite.
Sou o café morno.
A moeda de um centavo.
A ponte interditada.
O homem que faz disto seu tesouro e casa.
Sou tudo que os olhos não tocam,
o nada que sempre está presente.
Onde todos estão,
mas ninguém é.
Neste mundo de plástico, à venda,
sou aquilo que não se pode comprar.
Aquilo que prateleira alguma contém,
Que infinitas parcelas não trariam.
Sou o pai que cuida.
O marido fiel.
A maré que carrega.
A brisa que leva o calor embora.
O que sou, afinal?
Nada. Tudo.
Não existo.
Existir, hoje, é uma mera formalidade contratual.
Receita
Receita Médica
Prescrevo,
uma dose de diálogo,
entre suas mágoas e medos
para que teus olhos sintam
o espectro de paz que emana de ti.
Uso oral,
um sorriso tenro,
conjurado por entre lágrimas ligeiras
que escapam aos olhos,
2x por dia, de 12 em 12h
Dose irrestrita,
para que a saudade - esta o fator etiológico destas gotas de coração
- possam secar em paz,
com estes medicamentos testados e aprovados pela ANVISA.
(A. é médico no tempo livre)
Prescrevo,
uma dose de diálogo,
entre suas mágoas e medos
para que teus olhos sintam
o espectro de paz que emana de ti.
Uso oral,
um sorriso tenro,
conjurado por entre lágrimas ligeiras
que escapam aos olhos,
2x por dia, de 12 em 12h
Dose irrestrita,
para que a saudade - esta o fator etiológico destas gotas de coração
- possam secar em paz,
com estes medicamentos testados e aprovados pela ANVISA.
(A. é médico no tempo livre)
sábado, 17 de outubro de 2015
Pulverizar
Cada silêncio seu ecoa em
minha mente. Cada segundo sem resposta, a suposta “paz” do silêncio é
erradicada dentro de mim. Creio que a futura senhora não imagina o caos que provoca cada vez que,
infantilmente, sofre com as chagas do seu passado. Não que eu a culpe, afinal,
sou tão sensível quanto. Mas até quando pensas que vai escapar impune com este
comportamento.
Eu nunca escrevi sobre suas crises. Chega. Cada vez que você paralisa, paralisa todos ao seu redor. Quero muito que percebas que o mundo real não é assim. Parar lá fora significa ser deixada no caminho. Pisoteada, sem piedade. Mamãe não vai te arrancar banheiro afora e dar-lhe comida na boca. Honestamente, meu amor, nem eu.
Quero que cresça ao meu lado. Assim como cresço do teu. Mas a verdade: crescer dói. Dói na mente, no corpo. Faz-nos chorar e sorrir – afinal, quem disse que a dor não pode ser prazerosa. Mas eu precisava por pra fora a raiva que sinto quando você, egoisticamente, se tranca em seu castelo, deixando o seu mais apaixonado súdito de fora.
Você nem começa a imaginar, nem nos seus piores pesadelos, o pesar que paira sobre esta besta que a ti escreve. O tormento imposto pelo seu ímpeto de fugir das falhas. Pare de fugir, meu amor. You can’t run away forever!
Tudo que quero é que possa caminhar ao meu lado. Ao meu lado. Não arrastada, não obrigada, não carregada.
Eu nunca escrevi sobre suas crises. Chega. Cada vez que você paralisa, paralisa todos ao seu redor. Quero muito que percebas que o mundo real não é assim. Parar lá fora significa ser deixada no caminho. Pisoteada, sem piedade. Mamãe não vai te arrancar banheiro afora e dar-lhe comida na boca. Honestamente, meu amor, nem eu.
Quero que cresça ao meu lado. Assim como cresço do teu. Mas a verdade: crescer dói. Dói na mente, no corpo. Faz-nos chorar e sorrir – afinal, quem disse que a dor não pode ser prazerosa. Mas eu precisava por pra fora a raiva que sinto quando você, egoisticamente, se tranca em seu castelo, deixando o seu mais apaixonado súdito de fora.
Você nem começa a imaginar, nem nos seus piores pesadelos, o pesar que paira sobre esta besta que a ti escreve. O tormento imposto pelo seu ímpeto de fugir das falhas. Pare de fugir, meu amor. You can’t run away forever!
Tudo que quero é que possa caminhar ao meu lado. Ao meu lado. Não arrastada, não obrigada, não carregada.
Assinar:
Comentários (Atom)